sábado, 16 de novembro de 2013

O cronista ambiental do Rio Grande do Sul

Henrique Roessler

Por Elenita Malta Pereira
Historiadora e biógrafa de Roessler


Há 50 anos, em 14/11/1963, calou-se a pena de um dos mais importantes cronistas ambientais que o Brasil já teve, Henrique Luiz Roessler. Nas páginas do Correio do Povo Rural, às sextas-feiras, publicou cerca de 300 crônicas, entre 1957 e 1963. Não tinha diploma universitário, mas seus textos eram dignos de jornalista experiente: usando e abusando de uma fina ironia, atingiam em cheio seus leitores.
Roessler nasceu em Porto Alegre em 16/11/1896, mas passou a maior parte da vida em São Leopoldo, onde ocupou os cargos de Capataz do Rio dos Sinos, Delegado Florestal e Fiscal de Caça e Pesca. Essas funções demandavam vistorias pelo Sinos e diligências em todo o RS; com as viagens, conheceu a realidade do Estado e ficou chocado com a destruição que encontrou já nos anos 1930. Em 1955, Roessler criou a primeira entidade ambientalista do RS, a União Protetora da Natureza (UPN).
Em suas crônicas, Roessler denunciava a degradação do ambiente e oferecia soluções, relatava as atividades da UPN e conclamava os leitores à ação.  Os temas mais frequentes de seus textos eram a poluição das águas, a questão florestal, a caça (especialmente de passarinhos), os direitos dos animais, a educação para a proteção ambiental, o questionamento da noção de progresso, a vida nas grandes cidades e a alienação humana perante a natureza.
Para se ter uma ideia da atualidade das ideias de Roessler, nas páginas do Correio ele denunciava o desrespeito ao Código Florestal e a impunidade aos contraventores, lamentando que as leis não eram aplicadas “com a necessária rigidez”; apontava medidas de tratamento de esgotos que, se cumpridas pelas indústrias, acabariam com as mortandades de peixes nos rios; manifestou-se contra a vivissecção e a utilização de animais como cobaias nas pesquisas científicas; condenou o uso de pesticidas, antes mesmo de Rachel Carson. Em várias oportunidades, criticou a forma como o progresso era concebido pelo Ocidente: distante da natureza, a vida se tornava “mais neutra, técnica, fria, autômata, anônima e interesseira”.
Hoje, em que presenciamos a agonia dos rios e oceanos em todo o planeta, a queimada histórica de nossas florestas e a tragédia de inúmeras espécies ameaçadas, as palavras de Roessler ainda fazem sentido. Se fosse vivo, ele estaria lutando por leis mais rigorosas e escrevendo textos críticos e mobilizadores sobre as temáticas atuais. Continuaria mostrando que a proteção da natureza é vital para o futuro de todas as espécies, inclusive a nossa.

Artigo publicado no jornal Correio do Povo, em 14-11-2013, p. 2.

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